terça-feira

Urgência

Eis-me aqui novamente em tanta súplica perante as velas
Mentindo que mentisse quando punha-me a considerar
Que das belezas mais amáveis que a vida ousa me negar
Tu foste (inda é), desesperadamente, a maior de todas elas.

Escrevo, assim, mais que sorumbáticas letras atemporais
Das saudades que eu sentia de nossos utópicos carnavais.
Mais que a desventura dos vestígios que me vieste exalar.
Muito mais que o destempero deste pedaço de meu pesar.

Alerta-me de tua existência, lança-me um brado, um ruído
Que reexista contigo o ser que conheceste, que já não sou
Sem ciência do que outrora fui, hoje somente animal aluído
Tomado do instinto, num deletério ímpeto busca-lo, eu vou!

Em tua busca, desatinei praça em praça por toda essa Minas
Caindo agora, sob esse céu sem luar, ao som de coisa alguma
Avistando absolutamente nada senão previsões matutinas
Descanso os olhos e de repente, não mais existo, em suma.

Amanheço bicho oco.
Um bicho repleto.
Um bicho alucinado pela saudade.


Nathaly Guatura

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